segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

O Dzogchen na Tradição Bön (parte 1)

por: Tenzin Wangyal Rinpoché*

A sabedoria auto[1] surgida é a Base,As cinco emoções negativas são a energia manifesta,Ver as emoções como erróneas é um erro;Deixá-las na sua natureza é o métodoPara encontrar o estado não dual da Liberação;Suplantar a esperança e o medo é o resultado.

Apesar de terem existido praticantes de Dzogchen em todas as tradições religiosas tibetanas, tais como o Quinto Dalai Lama, da escola Gelugpa; o Terceiro Karmapa Rangjung Dorje, da escola Kagyüpa e Dragpa Gyaltsen, da escola Sakyapa, as linhagens mais importantes dos Ensinamentos Dzogchen são encontrados no Bön, a religião nativa do Tibete e na Escola Nyingmapa (a mais antiga) do Budismo Tibetana. Ambas as tradições classificam os seus ensinamentos em “nove Caminhos”, ou vias de prática que conduzem à iluminação ou realização e em ambas as classificações, o Dzogchen é o nono e mais elevado Caminho.Nos dias de hoje, mestres de todas as escolas tibetanas têm começado a ensinar Dzogchen e quase parece que o Dzogchen está a tornar-se um tipo de moda no ocidente.

O Dzogchen
Dzogchen (rdzogs chen) significa literalmente "perfeição", "realização" ou "preenchimento" (rdzogs) que está "completo" ou "grande" (chen). Apesar do Dzogchen ser a "grande esfera única", por conveniência ele é descrito como tendo os três aspectos Base, Caminho e Fruto: "Base" porque o solo do Dzogchen é o estado primordial do indivíduo; "Caminho" porque o Dzogchen é o caminho supremo, directo e imediato para a realização; e "Fruto" porque o Dzogchen é a consumação da iluminação, a libertação do ciclo ilusório de transmigração samsárica numa única vida.De modo a compreender melhor o Dzogchen, olhemos um pouco mais para a divisão em Base, Caminho e Fruto.De acordo com os ensinamentos Dzogchen, a Essência (ngo bo) da Base de tudo (kun gzhi) é vazia (ston pa nyid) é primordialmente pura (ka dag); a Natureza (rang bzhin) da Base é a Claridade (gsal ba) que é espontaneamente perfeita (lhun sgrub); a união inseparável (dbyer med) da Essência primordialmente pura e da Natureza espontaneamente perfeita é o fluxo inobstructível (ma’ gag pa) da Energia ou Compaixão (thugs je). Na mente individual, esta Base é o estado natural (gzhi) e é a fonte de samsara para a mente iludida (ma rig pa) e a fonte do nirvana para a mente na qual o conhecimento (rig pa) está desperto.A essência de kunzhi, ou Base, é chamada Mãe (ma), a consciência desperta (rig pa) é chamada Filho (bu) e a inseparabilidade (dbyer med) da mãe e do filho é o fluxo da Energia (tsal).O Caminho (lam) consiste em ganhar «insight» da Visão (lta ba) do Dzogchen, que é o conhecimento da verdadeira condição da Base do indivíduo e fazer o fluxo de rigpa, cultivado através da Meditação, contínuo no período pós-meditativo, para que possa ser integrado na nossa conduta ou atitude e nas actividades da vida diária.
O Fruto é a actualização dos três kayas inerentes nesta mesma vida e culmina no atingir do corpo de arco-íris, ou corpo de luz, no fim da vida, enquanto na morte o corpo material não deixa restos mortais mas dissolve-se na sua natureza, a qual é a luz.

O Dzogchen no Contexto da Prática Espiritual Bön
O Dzogchen é a mais elevada tradição espiritual do Bön. No passado, os praticantes que conheciam e praticavam o Dzogchen no Tibet eram poucos, mesmo dentro das tradições Bön e Nyingma. Um dos motivo para isto é que não era fácil receber estes ensinamentos; eles eram mantidos em muito secretismo, poucos mestres os concediam e a poucos estudantes. Mesmo em momentos actuais, os adeptos leigos do Bön no Tibete habitualmente dispendem bastante tempo a realizar as nove práticas preliminares (ngöndro) e o phowa, enquanto os monges que permanecem nos mosteiros envolvem-se principalmente em estudos intelectuais e filosóficos e em debate, bem como em recitações de textos litúrgicos e rituais.Muitos mestres insistiam (e muitos mestres continuam a insistir) que os praticantes completem as práticas do ngöndro antes de receberem ensinamentos do Dzogchen. Estas práticas preliminares são descritas no Nyamgyü Gyalwe Chagtri (nyams rgyud rgyal ba'i phyag krid). Cada uma destas nove práticas deve ser realizada cem mil vezes. As nove práticas são:

A Geração de compaixão por todos os seres sencientes
Tomar de refúgio
Oferecer o mandala
Meditação na impermanência
Confissão de transgressões
Realizar Prostrações
Guru Yoga, fundir a mente com a mente iluminada do mestre visualizado em frente de si próprio
Oferecer orações
Receber bênçãos

No entanto, quando eu recebi os ensinamentos do Zhang Zhung Nyangyü, o Lopön Sangye Tenzin, afirmou que apesar de em tempos antigos poder ter sido adequado manter os ensinamentos do Dzogchen secretos, nos nossos tempos problemáticos é melhor dá-los mais aberta e livremente (mas sem desta forma diminuir o seu valor) ou haveria o perigo destes fenecerem. (continua...)

[1] Do inglês «self» que pode ser traduzido como: próprio, auto, em si ou espontâneo.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Tapihritsa e o Dzogchen na Linhagem Zhang Zhung Nyangyü


Dialogo entre Tapihritsa e dois discípulos

No fim da sua vida, Tapihritsa, realizou o corpo arco-íris, entrando na condição de total purificação sem deixar despojos mortais. Para si mesmo ele realizou o estado de bonku, para outros o estado de tulku, manifestando-se na sua forma visível para voltar a despertar aqueles que tinham a benção de o ver. A sua manifestação física não era limitada e tinha a capacidade de manifestar em configurações diferentes. Depois de ter atingido o corpo de arco-íris, Tapihritsa reencarnou como criança para ensinar os seus dois principais discípulos, Gyerpung Nangzher Lodpo e Mo Yungdrung.

Gyerpung Nangzher Lodpo pertencia à ilustre família Gurib, um clã que se vangloriava de vários anteriores detentores de linhagem. O seu pai era Gurib Bumed, a sua mãe Mangorza Droma. Recebera instruções e ensinamentos do mestre Zepung Lawa Gyaltsen e de muitos outros mestres. Era um grande mestre, perfeitamente versado em todas as doutrinas dos nove Caminhos. Praticava austeridade e cumpria todos os votos. Obtivera grande poder através da prática de Yidam Meri e tornara-se sacerdote real do rei Ligmincha de Zhang Zhung. Depois do assassínio do rei Ligmincha pelo rei Trisong Detsen do Tibete, lançou bombas mágicas sobre Trisong Detsen, salvou deste modo os ensinamentos Bon, forçando o rei tibetano a desistir da destruição dos textos Bon, de modo a que não se tornara necessário de esconder os textos Zhang Zhung Nyan Gyud que tinha reunido para depois redescobri-los como terma.

Nangzher Lodpo tornara-se muito orgulhoso, graças ao seu grande poder e fama e para ultrapassar este orgulho Tapihritsa lhe apareceu na forma de uma criança, libertando-o de todos as correntes do seu apego ao Ego. Assim foi capaz de contemplar a sua mente na condição de equanimidade e de atingir a realização suprema e tornar-se um Buda omnisciente.

A criança apareceu a Mo Yungdrung, que era muito rico, contando-lhe que estava a mendigar porque não encontrara nenhum trabalho. Assim o rico praticante lhe ofereceu integrar a sua família como criado, guardando os animais. O rapaz era muito inteligente e ágil no seu trabalho e deram-lhe o nome de Nyeleg. Nesta altura, Nangzher Lodpo estava em retiro numa caverna nas proximidades, apadrinhado por Mo Yungdrung. Um dia Nyeleg, voltando com o seu saco das montanhas para onde tinha levado os animais para o pasto, viu Nanghzer Lodpo a sair da sua caverna. Nyeleg prosternou-se e demonstrou o respeito nove vezes como manda a tradição. O mestre notou que o rapaz estava treinado na doutrina e perguntou-lhe: “Quem é o teu mestre? Que tipo de meditação praticas? O que carregas no teu saco? Porquê te comportas deste modo? Para onde é que vais?”

Nyeleg respondeu: “A visão é o meu mestre. Pratico o estado não-conceptual. Medito em tudo o que vejo nas três dimensões (da existência). Carrego pensamentos no meu saco. O meu comportamento é trabalhar como criado dos seres sensíveis. Não vou a lado nenhum.” O mestre ficou decepcionado. Sentia-se orgulhoso de ser um mestre importante e sentiu que a resposta do rapaz tinha sido desrespeitosa. Replicou cepticamente: “Se a visão é o teu mestre, significa que não tens mestre. Se o estado não-conceptual é a tua prática, significa que não precisas nem de alimento nem de roupa. Se a tua meditação é todas as visões das três dimensões, isto significa que não precisas de meditar: sem meditação receberás plena realização. Se carregas pensamentos no teu saco, isto significa que não tens desejos.” O rapaz disse então: “Se não entendes a visão como mestre, então quem é que ensinou o Buda primordial?” Ele queria dizer que, para entender a verdadeira condição, não há necessidade de um mestre; o mestre explica e confirma ao praticante a experiência da sua própria sabedoria inata, algo que o praticante já sabe; não há nada de novo que ele lhe pode ensinar. “O meu estado é o estado não-conceptual porque nesta base não há pensamentos: visões conceptuais não são prática meditativa. A minha meditação é a visão dos três mundos: na verdadeira natureza não há parcialidade. Se houvesse, não seria meditação. Se carrego pensamentos no meu saco, isto significa que os desejos acabaram de modo que não há pensamentos. Se não tiveres conceitos, apercebes-te do sentido. Se a minha prática é ser o criado de todos os seres, isto significa que todas as experiências de bem-aventurança e de sofrimento são de um único sabor e experimentar a não-separação do bem e do mal é a minha prática.” Nangzher Lodpo ficou zangado e disse: “Se és tão inteligente, temos de debater amanhã na presença do rei.” O rapaz riu-se sonoramente e disse: “ Causa e efeito é entendimento ignorante. Grandes praticantes de meditação que mantêm pensamentos presos e controlados, são sonolentos e dormem quando meditam. A linguagem e a lógica da filosofia são como armas e teias escuras. Debater é apenas conceitos verbais e a prática Tântrica é transformar a mente e não a deixar na sua natureza. Mestres instruídos têm entendimento insignificante e a sua visão e meditação são como bolhas, meras palavras sem aplicação prática. Tudo isto não é a verdadeira prática; o derradeiro estado é incondicional. Não há prática a fazer, não há obscurecimentos e uma vez que tens o verdadeiro entendimento, não há nada que tem de ser forçado ou mudado.”

Há três modos de explicar as coisas às pessoas: podemos indicar-lhes os seus erros, o que não é o melhor modo; podemos ficar calados, porque, se as pessoas põem muitas questões e não respondemos, podem perceber algo desse modo; ou podemos actuar do mesmo modo como eles. Foi isso que Nyeleg fez: reagiu às questões e respostas que recebeu. Criticou Nanghzher Lodpo que se zangou e disse: “Amanhã vamos debater na presença do rei. Se ganhares, serás o meu mestre; se eu ganhar, castigar-te-ei.” De repente Nangzher Lodpo reconheceu o rapaz como uma emanação e desmaiou. Quando recuperou a consciência, confessou os seus actos negativos a Tapirhitsa. Entretanto, uma vez que todos os animais se soltaram, sendo comido por lobos, Mo Yungdrung chegou e ralhou com a criança, mas Nangzher disse-lhe: “Não te devias zangar, uma vez que elea é um grande mestre e é muito importante para nós.” Então ambos estiveram confusos e desculparam-se pelo modo como tinham falado com o rapaz e desmaiaram a seguir. Quando recuperaram os seus sentidos, Tapihritsa tinha subido ao céu e estava sentado no espaço, rodeado por círculos de arco-íris e riu-se. Os dois discípulos sentaram-se então e Tapirhitsa começou a transmitir os seus últimos ensinamentos. Se bem que Nangzher Lodpo fosse muito instruido, o seu grande orgulho bloqueava-o ao verdaeiro entendimento, e esses breves mas essenciais ensinamentos ajudaram-no a libertar-se a si próprio.

traduzido apartir de: Wonders of the Natural Mind, The Essence of Dzogchen in the Native Bon Tradition of Tibet por Luis Fataca

Quem é Tönpa Shenrab Miwoche?


O fundador da Tradição Yungdrung Bön foi Tönpa Shenrab Miwoche. «Tönpa» é um titulo e quer dizer professor, ou mestre, «Shenrab Miwo» significa «o homem que é o Shen supremo».
De acordo com as biografias tradicionais, numa era anterior Shenrab Miwoche chamava-se Salwa e estudava as doutrinas do Bön conjuntamente com os seu irmãos Dakpa e Shepa, num paraíso chamado Sidpa Yesang, sobe a orientação do Mestre Bumtri Logi Cesan. Tendo estes três irmãos terminado os seus estudos foram ver a Deidade da Compaixão, Shenlha Odkar, perguntando-lhe o que poderiam fazer para livrarem os seres migratórios dos sofrimentos da existência cíclica; tendo sido, então, aconselhados a desempenharem o papel de guias espirituais dos transmigrantes em três Eras. Assim, Dakpa foi o Guia numa época passada, Tönpa Shenrab Miwoche o Guia da actual Era e Shepa aparecerá para desempenhar a sua função num período futuro. E desse modo, com esse propósito, Tönpa Shenrab veio a este mundo, descendo dos paraísos celestes e aparecendo junto ao Monte Meru.


Segundo a literatura mitológica, ouve três ciclos de exposição de Doutrina Bön num igual numero de dimensões existências. Uma na dimensão dos deuses (lha), outra na dimensão humana (mi) e também uma na dimensão dos nagas (klu).Na nossa dimensão, a humana, Tönpa Shenrab teve três emanações as quais foram para três diferentes regiões para beneficiarem os seres sencientes; assim partilhou os seus Ensinamentos originalmente em Olmo Lung-ring, que como já sabemos era parte dum país chamado Tazig.


Para completar a nossa informação, quem sabe, será útil saber que ao separarmos a sílabas que constituem a palavra Olmo Lung-ring encontramos o seguinte: «Ol» simboliza o não nascido, «Mo» o que não diminui, «Lung» as palavras proféticas de Tönpa Shenrab e «Ring» a compaixão ilimitada. Assim, muito mais do que um local meramente físico é sobretudo uma dimensão de realização espiritual.


Contam-nos então, esses textos, que à semelhança de outros Iluminados Tönpa Shenrab nasceu como um príncipe, em Olmo Lung-ring, num palácio ao sul do Monte Yung Drung Gutseg. Constituiu família e à idade de trinta e um anos tomou sobre si o caminho da renuncia; obviamente não porque o necessita-se mas para estabelecer um exemplo que facilitaria a muitos o entender dos seus Ensinamentos.


Nessa altura também vivia nesta terra um demónio de nome Khyabpa Lagring, que tinha o constante intuito de obstruir as actividades de Tönpa Shenrab e que uma das suas acções constantes seria o roubo dos cavalos deste ultimo “obrigando-o” a persegui-lo vários dias para poder recuperá-los. Diz-se então que foi numa destas situações, em que Khyabpa Lagring lhe havia roubado sete cavalos, que na perseguição teria visitado o antigo reino de Zhang Zhung.
Chegou ao dito reino através do Monte Kongpo tendo então dominado os demónios locais e concedido alguns dos seus Ensinamentos. Esta terá sido a única ocasião em que Tönpa Shenrab visitou Zhang Zhung e o Tibete. Nessa ocasião, é-nos dito, os autóctones não se encontravam preparado para receber os Ensinamentos Supremos do Dzogchen, pelo que Tönpa Shenrab só pode dar os Ensinamentos dos Veículos Causais; profetizando, todavia, que em épocas futuras e no momento apropriado o Bön em todo o seu esplendor floresceria nesse lugar.


O Mestre Shenrab Miwoche, na sua sabedoria e compaixão, reconheceu quatro fontes de sofrimento, a saber: 1- o de nascer, 2- o envelhecer, 3- o adoecer e 4- o morrer; este reconhecimento levou-o a desenvolver a intenção de abandonar a existência cíclica e condicionada (samsara). Então, resignou às suas posses, cortou o cabelo e passou a viver da esmola. Abandonou a família, o palácio, as propriedades e os súbditos, foi-se sozinho e dormia no chão. Adoptou a uma estrita dieta vegetariana composta de leite, coalhada e manteiga, abandonando a ingestão de carne, alho e bebidas alcoólicas. Adoptando o hábito monástico.


Realizou várias práticas ascéticas de modo a ser um bom exemplo para os seres comuns; e ao subjugar os maras, durante a noite, pela aurora manifestou o estado iluminado. Um séquito de discípulos congregou-se naturalmente à sua volta e Tonpa Shenrab Miwoche ensinou-os sobre o Bön. Seguindo todos com fé e devoção. Tönpa Shenrab concedeu ordenação igualmente a ambos os géneros, sendo que os homens alinhavam à sua direita e as mulheres perfilavam à esquerda. Explicou-lhes os diferentes tipos de ordenação e os seus respectivos preceitos, possibilitando-lhes um caminho ético e moral para eliminar a vida samsárica.


Seguidamente, o Mestre Iluminado, retirou-se em isolamento num bosque da Montanha das Nove Suásticas Amontoadas, preservando o silêncio. Mais tarde, os seus seguidores voltaram a congregar-se à sua volta e de novo os ensinou. Aos mais brilhantes, inteligentes, ensinou-os como obter a iluminação numa só vida através do Dzogchen, aos outros ensinou-lhes os vários aspectos do caminho gradual de acordo com as capacidades destes. O como garantir um bom renascimento, o erradicar gradual das emoções conflituosas e os obscurantismos. Transmitiu-lhes o como lidar com vários aspectos da prática e da vida.Então nessa sagrada montanha no ano Shen de 82, no primeiro mês do Inverno do ano da lebre de água entrou no nirvana no meio de muitos sinais auspiciosos. No ano seguinte, o do dragão de madeira, um concilio composto por treze Yungdrung Sempas compilou os Ensinamentos de Shenrab Miwoche. Passaram-se mil e oitocentos anos humanos desde que Tönpa Shenrab transcendeu a dor até ao ano da lebre de água, pondo fim à época da «doutrina do corpo». Desde o ano do dragão de água, em que surgiu o sucessor do Mestre, Mucho Demdrug, originou-se o período da «doutrina da fala»; com isto Mucho Demdrug girou a Roda do Bön durante trêz anos Shen. Esse foi o período em que tiveram surgimento muitos eminentes eruditos e teve inicio a disseminação dos Ensinamentos.

quinta-feira, 31 de maio de 2007

História - Difusão e Perseguição do Bön


Depois da partida, falecimento, de Shenrab Miwoche, seis tradutores de excelente qualificação e que receberam instrução do sucessor de Tönpa Shenrab, um dos seus filhos, de nome Mucho Demdrug, traduziram os Ensinamentos Bön para os seus próprios idiomas. Estes seis foram Mutsa Trahe do país de Tazig, Trithog Partsa de Zhang Zhung, Guhu Lipa de Sumpa, Lhadag Ngagdol da Índia, Legtang Mangpo da China e Serthog Chejam de Trom.


Assim a integridade total dos Ensinamentos de Tönpa Shenrab Miwoche, o Yungdrung Bön, espraiou-se pelo mundo a partir de Olmo Lung-ring, através de “Três Portas”; Sendo uma delas a própria exposição dos Ensinamentos em Tazig, outra surge a partir de Zhang Zhung e a ultima localiza-se no Tibete devido à disseminação do Bön Eterno nesse território, e ao seu firme estabelecimento no longo “plateau” tibetano.


Ouve todavia Ensinamentos, que tendo origem no país de Tazig, foram introduzidos directamente no Tibete, outros só ai chegaram provenientes principalmente de Zhang Zhung, mas também da Índia e da China. Tendo aqueles que chegaram via Índia ficado conhecidas por Gyagarma e contêm todos os ciclos dos Nove Veículos do Tesouro Central.


O Reino de Zhang Zhung
Todavia, ao que parece, a maior parte da literatura Bön foi traduzida a partir do idioma de Zhang Zhung. Assim, alguns textos passaram por uma tradução tríplice, desde o Tazig, para a linguagem de Zhang Zhung e dai para a língua Tibetana.


Hoje em dia não restam quaisquer dúvidas que a importância do Reino de Zhang Zhung foi fulcral para a difusão e expansão do Ensinamento Yungdrung Bön.


Para uma compreensão clara do desenvolvimento e propagação do Bön Eterno, é muito útil entender que o Reino de Zhang Zhung existiu enquanto estado independente até ao oitavo século da era cristã; os seus habitantes falavam um idioma burmeo-tibetano e possuíam um sistema de escrita. Este reino era governado por uma dinastia de reis que teve o seu fim no referido século, quando o ultimo monarca, o Rei Ligmincha, foi assassinado pelo rei do Tibete e Zhang Zhung anexado ao território tibetano.


Zhang Zhung, na sua época, cobria aquilo que actualmente se conhece como Tíbete ocidental e a sua área fazia fronteira a oriente com Khyunglung Nulkhar e Dang-ra khyung-dzong, com Tzang ao sul e Kashmira a ocidente; sendo o seu centro localizado entre o famoso Monte Kailash e o Lago Manasarovar Aonde na actualidade existe O Vale de Khyung, a sudoeste do Monte Kailash, era a capital do Reino, Khyunglung Nulkhar, «O Palácio Prateado do Vale do Garuda».


Apesar de Zhang Zhung, historicamente, se localizar no Guge (Tibete ocidental), o seu domínio expandia-se até ao Tibete central e oriental. Os governantes de Zhang Zhung, em princípio, não exerciam um grande controlo sobre essa região, além da cobrança de impostos, e deste feita a cultura e civilização zhangzhungpa, baseadas na Tradição Bön, premiaram plenamente tudo o que conhecemos como o actual Tibete.


Nesta era, existem evidências de que, o nome do Reino seria apenas «Zhung»; que equivale à palavra tibetana «Khyung», em “Português” «Garuda».


O Reino de Zhang Zhung e o Tibete
Foi no período subsequente do desenvolvimento e difusão do Bön, que nasceria uma pequena monarquia no Tibete central, dando origem á dinastia Yarlung. Seria esta monarquia que daria o alicerce ao futuro império tibetano. Que apesar de ser um reino independente, a sua cultura, costumes e religião eram plenamente zhangzhungpa.


E segundo os livros de história, durante cerca de trinta e três gerações da monarquia tibetana, desde Nyatri Tsenpo até Songtsen Gampo, 649 d.c., a religião oficial era o Bön. Todos os reis se faziam acompanhar de Lamas Bönpo, que eram fundamentais para preservar o prestígio real, assegurar a prosperidade do povo; inclusive o nome dos reis tibetanos era atribuído pelos sacerdotes Bön e na linguagem de Zhang Zhung.


Em certos períodos, repetidamente, os reis tibetanos rebelaram-se contra o poder dos Lamas Bön, que logicamente defendiam mais os interesses do Reino de Zhang Zhung do que do estado de Yarlung. Já o oitavo rei do Tibete, Trigum Tsenpo, no primeiro século da era cristã, procurara suprimir a influencia dos bönpo, pois temia que a sua recente dinastia fosse destruída devido a uma conquista por parte de Zhang Zhung. Assim, exilou os Lamas Bön e aplicou uma forte repressão aos restantes mestres. A sua repressão não teve longa duração; com a ascensão ao trono de Pude Kungyel, o seu sucessor, o Bön foi restaurado no país. O oitavo rei não conseguiu assim perpetuar os seus intentos. O país sem a orientação espiritual dos seus Lamas entrou no descalabro, com o qual demonstrava a necessidade indubitável de uma base cultural e espiritual que nutrisse as necessidades do povo. E na altura não havia qualquer alternativa ao Bön.
Só os reis Songtsen Gampo e Trisong Detsen, conseguiriam finalmente abolir a supremacia dos Lamas Bön, ao adoptarem a cultura Budista proveniente da Índia e da China; esta tradição conseguiria finalmente substituir a via do Bön.


Perseguições à Tradição Bön
Seria o Rei Songtsen Gampo o promotor do Budismo indo-tibetano, apesar de só no reinado de Trisong Detsen, de 742 a 797 d.C., um século depois, é que o Budismo indiano seria oficialmente a religião do estado.


Ao preparar as bases para uma nova e independente cultura, o Rei Trisong Detsen, preparou uma armadilha ao Rei Ligmincha, o ultimo monarca de Zhang Zhung, e mandou-o assassinar, anexando assim este Reino ao Tibete.


Ao “engolir” o Reino de Zhang Zhung, o Tibete, ascende rapidamente a império e torna-se num curto espaço de tempo um dos mais poderosos países da Ásia.


Com a chegada do Budismo da Índia e depois do estabelecimento do primeiro mosteiro Budista, Samye, em 779 d.c., a Tradição Bön decaiu. E apesar de inicialmente, Trisong Detsen, não pretender eliminar a prática do Bön e inclusive patrocinar a tradução de textos Bön, viria depois a instigar uma dura repressão a esta tradição.


Todavia o grande Mestre e Sábio Dranpa Namkha, muito ligado ao Guru Padmasambhava, adoptaria a nova religião publicamente, mas manteria em privado a sua prática Bön com o fito de o preservar. O próprio Grande Vairochana, sábio budista e discípulo de Padmasambhava, bem como muitos outros Lotsawas, tradutores dos textos Budistas da Índia e de Uddiyana, participaram na tradução de textos Bön do idioma de Drusha para tibetano. E para salva-los da destruição, muitos textos Bön foram escondidos como tërma, tesouros espirituais, neste caso, compostos de textos que são escondidos com o intento de resguarda-los até que surja uma época propícia para o seu redescobrimento e nova difusão.


O Bön viria a sofrer, nos séculos IX e X d.C., outras perseguições e tentativas de extermínio. Mas, mais uma vez, os Bönpo foram hábeis em preservar as Escrituras até ao século XI, quando ocorreria um renascimento desta Tradição. Isto deveu-se muito em especial à redescoberta de vários textos importantes por parte de Shenchen Luga, um descendente do próprio Buda Tönpa Shenrab. Shenchen Luga da família Shen que descende de Kongtsha Wangden, um dos filhos de Tönpa Shenrab. Os descendentes desta importante família Bönpo ainda vivem no Tibete.
Shenchen Luga viria a ter muitos discípulos os quais fundariam os primeiros mosteiros Bön no Tibete. E a três dos seus discípulos incumbiria a preservação de três diferentes Linhagens Bön.

A Druchen Namkha Yungdrung, do clã Dru, destinou os estudos da cosmologia e metafísica. Sendo um dos seus discípulos o fundador do mosteiro Yeru Wenshaka. A família Dru patrocinou esta Linhagem Bön até ao século XIX, aquando da extinção desta linha.


A Zhuye Legpo foi entregue a responsabilidade de preservar e propagar os Ensinamentos Dzogchen. Este mestre foi o fundador do mosteiro Kyikhar Rizhing. Sendo que actualmente os seus descendentes vivem na Índia.


E por fim, a Paton Palchog foi confiada a preservação dos Ensinamentos Tântricos. Os membros da sua família vivem na província do Kham no Tibete.


Em 1727, quando o Tibete foi invadido pelos Dzungares, a prática do Bön foi novamente interditada. Neste período muitos Lamas, Bönpos e Nyingmapas, foram executados.


Todavia, no século XIX, o Bön seria revitalizado e valorizado graças ao Mestre Shardza Tashi Gyaltsen, que era um praticante consumado e um erudito de gabarito que compilaria importantes escritos num total de dezoito volumes; o seu discípulo Kagya Khyungtrul Jigmey Namkha preparou muitos outros, não só da Tradição do Bön Budismo, bem como de todas as áreas da sabedoria tibetana.

Yungdrung Bön: Os Ensinamentos de Tönpa Shenrab Miwoche


Os Ensinamentos Bön concedidos por Tönpa Shenrab Miwoche são apresentados em três das histórias escritas sobre a sua vida e assumem diferentes formas e classificações. Tönpa Shenrab expôs o Bön em três ciclos sucessivos de Ensinamentos: primeiro expôs Os Nove Veículos do Bön, continuado com Quatro Portais do Bön, o Tesouro Único e finalmente revelou as Preceitos Externos, Internos e Secretos.

Os Nove Veículos do Bön

Este é o ciclo inicial dos Ensinamentos de Tönpa Shenrab, que por sua vez se divide em três Tesouros: Os Tesouros do Norte, Os Tesouros do Sul e O Tesouro Central. Estes Ensinamentos foram ocultos como Tërma durante as primeiras perseguições do Bön e redescobertos no tempo apropriado em locais do norte, sul e centro do Tibete, de donde advêm o nome dos respectivos tesouros.

Nos Tesouros do Sul, Os Nove Veículos do Bön encontram-se divididos em os Quatro Veículos Causais, que contêm historias, hagiografias, rituais e práticas principalmente relacionadas com funções energéticas curativas e de prosperidade. Os Cinco Veículos do Fruto, ou superiores, cujo propósito é libertar o praticante de transmigração cíclica, tendo como veículo último o Dzogchen.
Os Nove Veículos do Bön nos Tesouros do Norte não se conhecem plenamente; e no Zang Zang Ma, dividem-se em três grupos: Os Tesouros Externos, Internos e Secretos.


Os Nove Veículos do Bön, nos Tesouros Centrais, são similares aos Nove Veículos da Escola Nyingma do Budismo. São na realidade o Ciclo de Ensinamentos Gyagarma, que chegam ao Tibete via Índia e que foram traduzidos pelo Venerável Vairochana, que livre de qualquer sectarismo, trabalhou como tradutor de ambas as Tradições espirituais, a Budista e a Bön.


Classificação dos Nove Veículos do Bön segundo os Tesouros do Sul:


1º O Veículo da Prática Shen de Predição. Os métodos integrantes são a adivinhação, ou Mo, os cálculos astrológicos e de geomância, ou rtsis, os rituais, ou gto, o diagnóstico médico, ou dpyad e as terapias, ou sman.

2º O Veículo Shen do Mundo Manifesto. Este veículo contém rituais para lidar com aspectos fenoménicos relacionados com os “deuses” [lha] o com “demónios” ['dre].

3º O Veículo Shen do Poder Mágico, que contém rituais mágicos para assegurar o apoio da natureza.

4º O Veículo Shen da Existência. Este veículo ocupa-se principalmente de ritos fúnebres e da consagração propiciatória.


5º O Veículo dos Praticantes Laicos Virtuosos, que especifica as regras morais e éticas dos praticantes laicos.


6º O Veículo dos Sábios Ascéticos, especifica as regras ascéticas estritas e disciplinarias para aqueles que são ordenados monges.


7º O Veículo do A Branco. Que aborda a prática Tântrica de transformação no Yidam e as práticas referentes ao Mandala.


8º O Veículo do Shen Primordial, que se ocupa das práticas tântricas esotéricas.


9º O Veículo Supremo, que descreve a Base do Nirvana e do Samsara, o Caminho que é a mente no seu estado natural primordial, o Fruto a iluminação e as realizações supremas; ou seja o Ensinamento Dzogchen.

Os Quatro Portais do Bön e o Tesouro Único

Este é o segundo ciclo de Ensinamentos de Tönpa Shenrab e que se divide em cinco partes:

1º O Bön da Agua Branca dos Mantras Iracundos - práticas esotéricas, tântricas e conjurações.

2º O Bön da Agua Negra dos Tantras da Existência – ensina vários rituais de purificação (mágicos, vaticínios, divinatórios, funerários, resgates, etc).

3º O Bön dos Cem Mil Versos do Sutra da Terra de Phan - regras da disciplina monástica e para os laicos (inclui explicações filosóficas).

4º O Bön Guia Oral e as Instruções Secretas dos Sábios Mestres – práticas espirituais como a meditação Dzogchen.

5º O Bön do Tesouro Altíssimo e que Abarca Tudo - O Tesouro Único que compreende os aspectos essenciais do conjunto de dos Quatro Portais.


Preceitos do Bön

Este é o ciclo final dos Ensinamentos de Tönpa Shenrab e que se divide em Preceitos Externos, Internos e Secretos.

1. Os Preceitos Externos representam o caminho da renúncia [spong lam]. Ensinamentos do Sutra.

2. Os Preceitos Internos representam o caminho da transformação [sgyur lam]. Ensinamentos Tântricos.

3. Os Preceitos Secretos são o caminho da auto-libertaçao, ou libertação espontânea [grol lam]. Os Ensinamentos Dzogchen.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Introdução ao Yungdrung Bön


«O Bön é a mais antiga tradição espiritual do Tibete e a fonte indígena da cultura tibetana, tendo desempenhado um papel significativo no moldar da identidade única do Tibete.»
O Dalai Lama
Na foto ao lado, Sua Santidade o Dalai Lama. realiza ritual da Tradição Bön e enverga as insignias correspondentes. Nomeadamente o chapéu e o cetro Yungdrung.

Segundo a tradição, há aproximadamente 18.000 anos, em Olmo Lungring, uma região do médio oriente, cuja a actual localização exacta está envolta em controvérsia entre os eruditos, nasceu o Venerável Tönpa Shenrab Miwoche, o fundador dos Ensinamentos do Yungdrung Bön, em Português, Bön Eterno; também conhecido por Bön Budismo. Desde então estes Ensinamentos têm sido para os bönpo, ou praticantes, a sua religião, a fonte inesgotável de conhecimentos e da experiência, a ferramenta essencial que permite compreender a vida e conduzir-se nesta e o caminho para a iluminação.

Como fonte originária da cultura tibetana, o Yungdrung Bön, desempenhou um papel fulcral na formação da identidade singular desta região do mundo.


Presentemente o Yungdrung Bön é considerado a quinta e a mais antiga das tradições budistas do Tibete. Tendo por características uma iconografia diferente e uma rica tradição xamânica, além de possuir Ensinamentos completos do Sutra, Tantra e Dzogchen.


Ao longo da história da religião no Tibete, a palavra «Bön» foi usada para designar diferentes vertentes espirituais e esteve sujeita a diferentes etapas e desenvolvimentos; Para aclarar o uso correcto deste termo é necessário mencionar que esta é aplicada em geral referindo-se ao:


- Bön Primitivo. Relacionando-se este com rituais e elementos que correspondem ao antigo xamanismo e animismo do Norte da Ásia. Esta vertente influenciou a cultura tibetana numa época anterior à difusão e desenvolvimento do Yungdrung Bön. Originalmente o Bön consistia numa série de conhecimentos e práticas de ritos alicerçados no principio da interacção do homem com as forças da natureza e do cosmos, invisíveis à percepção comum, que sem duvida têm uma grande influencia e são muito determinantes na existência da humanidade. Os antigos bönpo eram detentores de um enorme conhecimento da dimensão energética do individuo, bem como das energias presentes no universo, personificadas, ou domíndas, por uma miríade de poderosos seres, capacitados igualmente a beneficiar ou prejudicar os humanos.


- Yungdrung Bön, Bön Eterno ou Bön Budismo. Esta é a tradição de iluminação tibetana que possui Linhagens Ininterruptas de Ensinamentos que datam de aproximadamente 18.000 anos. Todos os Ensinamentos destas Linhagens provêm do seu fundador, o Buda Tönpa Shenrab Miwoche, que os expôs constituindo um caminho espiritual completo até ao estado de Buda. Estes Ensinamentos foram por ele ensinados primeiramente em Olmo Lungring, que era parte de um país chamado Tazig, que alguns estudiosos crêem ser na antigas Pérsia. Sendo esta tradição mais tarde difundida em Zhang Zhung, actual Tibete Ocidental, e só posteriormente chegaria ao Tibete, aonde floresceu e foi preservada até à actualidade.


- Novo Bön. Este é o resultado da fusão entre o Yungdrung Bön e o Ensinamento Budista proveniente da Índia, muito em especial com os da Escola Nyingma. Tendo surgido no século XV.
Tanto o Yungdrung Bön como o Novo Bön são trilhos espirituais que guiam o praticante pelo caminho da iluminação através das suas práticas rituais e contemplativas.


Convêm ainda mencionar que na língua tibetana não existe a palavra «Budismo», assim a palavra «Bön» significa para os Bönpos a verdade, ou Dharma, o Ensinamento que guia à iluminação; do mesmo modo que para os praticantes das outras escolas tibetanas a palavra «Chö» refere-se à mesma verdade. Desta feita, o Dharma, que conhecemos como Budismo no Ocidente, para os Bönpo é o Bön e para os Budistas das outras escolas é o Chö e para os ocidentais é o Dharma ou Budismo.


Esta Tradição é considerada Budismo no sentido em que é também o Ensinamento dos Budas, ou Iluminados, expondo a mesma verdade, ou Dharma; possuindo apenas uma Linhagem diferente das Escolas Budista da Índia que têm origem no Buda Shakyamuni enquanto o Yungdrung Bön tem origem no Buda Tönpa Shenrab Miwoche.


Uma mesma verdade, duas Linhagens diferentes. Inclusive muitos dos famosos Mestres do Movimento Rime eram estudiosos e praticantes de Ensinamentos Bön; nomeadamente Jamgön Kongtrul Rinpoché, que adoptava também o nome bönpo de Yungdrung Lingpa e incluiu no famoso Rinchen Terdzo, A Preciosa Colecção de Tesouros, Tërmas pertencentes ao Bön; Sendo que a transmissão do Rinchen Tërdzo é amplamente recebida por praticantes Nyingma e Kagyu.
Etimologicamente uma das derivações da palavra Bön advém do verbo «bon pa» que significa «recitar formulas mágicas», devido ao recitar de mantras, sílabas e sons que tinham a capacidade de influenciar dimensões de energia; tal como equivalentemente a palavra «ngak pa» utilizada na tradição Tântrica de todas as Escolas do Budismo Tibetano.